Caríssimo nobre amigo!
Cercado de minhas plantas, aqui no meu pequeno jardim, aquele que tu sabes bem, carrego sempre comigo; a lembrar-me dos dias em que tu, ainda bem jovem, andavas inquieto e absorto na biblioteca de minha casa.
Teus olhos rasgavam ferozes as lombadas e as capas, num inquieto ato que queria engolir o universo; e assim, deglutir e regurgitar algo de si. Assim sendo, tu destes às vozes que trazes dentro de ti a construção dos teus próprios alicerces e castelos - não de areia e pedra; mas sustentados por poderosas nuvens de um inexistir profundo, que materializam-se aos poucos, para que subsistam por si mesmos.Nunca tivemos, tu bem sabes, aquela incestuosa relação de mestre-aluno, pois temos em vista bem clara, que ainda muito falta para que aprendamos juntos. Assim, meus velhos cadernos de caligrafia, de fotos, de recortes, de desenho, de anotações de viagem e de jogos; eram sorvidos por ti de uma forma sem censura, como quem entende bem da existência de fantasias. E os meus molesquinos ficavam ali, expostos, sem o risco de serem molestados ante a ta voraz fome muda de mundo.
Mais um aniversário teu se avizinha nobre amigo, e se afasta de mim o discernimento para o teu presente. Buscarei nos meus molesquinos, anotações que me indiquem o que pode ser interessante para um jovem aluno como tu. Algo que caiba aspas, ou que caiba entre aspas...
sábado, 16 de maio de 2009
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Caro Salinas,
ResponderExcluirRecordo-me de minhas primeiras visitas a ti, e dos meus olhos famintos e curiosos tateando com a íris-discente as imagens de tuas crias e tuas criadoras. Cadernos, telas, pincéis, fotos, tudo posto a minha frente pronto a ser desbravado. Também recordo-me de tecidos e rosas gigantes iluminadas, nos tornamos momentaneamente artesãos e jardineiros de um jardim de plástico.
Foram encontros imersos em acontecimentos passados que nos possibilitou essa amizade magnífica, antes mesmo de uma Novela Vaga vagamente iniciar seu processo de construção. Os anéis de Saturno já se alinhavam deflagrando nossos encontros e processos criativos.
Um homem só é um ser vazio, e o mundo está repleto de pessoas vazias e carentes de diálogo, mesmo que não saibam que disso necessitam, sofrem por não enxergarem a importância disso, e não entendem, seguem vivendo, mergulhados em multidões no cotiadano do centro de qualquer cidade que seja, contando as horas para ir para suas casas e se deleitarem com mais pensamentos perdidos, em completo desencontro.
Eu não me sinto vazio, respiro cada canto de uma sala, seja em penumbra, seja no ataque violento do sol pela janela. Mas nada disso devo a mim mesmo, não sinto-me inteiro pois cheguei sozinho a conclusões e questionamentos maiores, isto seria uma falácia, uma inverdade. Sou inteiro pois nos olhos de quem me compreende e por mim zela desdobram-se mãos estendidas e conversas de barões-plebeus.
Você, meu caro amigo! É um dos maiores presentes que, em vida, eu poderia receber. E se sou inteiro, humano, ferida e zelo devo isso também a você e outros poucos companheiros que a vida despeja em meu coração. E por isso bebo cada sílaba que emana de cada um de vocês com respeito e carinho imensuráveis, pois hoje entendo que a minha existência é uma extensão concreta e irremediável do que compartilho com vocês.
Obrigado por tudo e nas nuvens nos encontremos!
Um abraço de seu amigo,
Rabello Catavento