sexta-feira, 15 de maio de 2009

Uma escrita para teus ouvidos...



Catavento escuta, pois escrevo para os teus ouvidos: tu sabes melhor do que eu, que meus delírios advém das nuvens nas quais me escondo desde a absorta aura de meus dias. Dificultoso fica, portanto, aportar aqui meus apontamentos referentes à nossas histórias. Tu bem sabes, ainda, o quão trabalhoso é expor ao (virtual), questões tão caras para mim.

Sabemos que apesar de passar muitos tempos, lá em cima, acima das nuvens; prescruto-te de lá, sempre cuidadoso com teus afazeres e suas demandas. Não (é claro!), tu também, bem sabes, que esteja acima ou além de ti; mas minha cabeça anda acima das nuvens, estando os pés sobre elas, ou mesmo, aqui em terra firme.

Esta propriedade que possuo - dom extraordinário para os ordinários, de pôr-me à troposfera, tornando-me um singular e aliterante alienado alado.

As asas que porto (à cabeça) e nos pés são o diálogo entre a psicologia e a astrologia, que traçam o micro ao macro, que dão amplitude ao que é ínfimo - particular, o que me alça para além, quando nem saio de mim. Este comportamento próximo de Mercúrio, das instabilidades e oscilações, interpelam-se ao de Saturno, que tende ao melancólico, solitário e contemplativo, no qual me encontro na maior parte das vezes. Os antigos já nos ensinaram, que o temperamento de saturnino é próprio dos artistas, dos poetas, dos pensadores, e essa caracterização me parece correta. Lembro bem, do que me disse o saudoso Ítalo Calvino: "é certo que a literatura jamais teria existido se uma boa parte dos seres humanos não fosse inclinada a uma forte introversão, a um descontentamento com o mundo tal com ele é, a um esquecer-se das horas e dos dias fixando o olhar sobre a imobilidade das palavras mudas. Meu caráter apresenta sem dúvida os traços tradicionais da categoria a que pertenço: sempre permaneci um saturnino, por mais diversas que fossem as máscaras que procurasse usar."

(Mercúrio e Apolo, de Francesco Albani)

Assim somos nós Catavento, saturninos, que sonham ser mercuriais e tudo que vivemos e escrevemos se ressente dessas aspirações. Atribuo-o, contudo, este aspecto saturnino, que tanto me move para além e é bem próprio aos artistas e poetas como nós. Daí ser tão circunspecto e introvertido, tão vertido em sibilantes nuvens.

Olha Catavento! Vede como me arrebato tão grandiloqüente em meus pensamentos, como quando passamos horas e horas em vastas conversas sem fim. Mas também sigo, assim, bandido de mim mesmo, a subtrair-me os tempos que deveria passar mais contigo. A assim, eis-me aqui caro amigo; estou contigo por onde tu queiras catar os ventos que nos alçarão vôos catapultais!

Apresentam-se as coordenadas aos poucos de nossos próximos passos; pois cada vez que decolo contigo, nos balões de tua/nossa imaginação, somos sugados por redemoinhos.

Que moinhos nos movam! Que alcemos vôos maiores!

Um comentário:

  1. Caro Matisse,

    As coordenadas estão começando a se desenhar e indicar rumos, rumos maiores que apenas a palavra escrita. Esta estufa experimental na qual residimos nos lança em experimentações, manipulações e diálogos duradouros e decisivos à nossa cerne, e portanto, à nossa arte.

    Estendeste as intenções de minhas proposições a você, e vejo que entendes minhas percepções e inquietudes quanto a determinadas questões. Cá estou, inquieto e ansioso por novas aventuras, estas que preparem o solo para a nossa decolagem nessa Novela Vaga a qual nos propusemos a construir.

    Que balões tomem os ares e a nossa imaginação se ponha feito um arranha-céu de cores nas beiradas dessa realidade de papel.

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