De dias em dias eu varro a minha casa. Junto num montinho toda a sujeira acumulada pelos cantos, escondida ou aparente.
Na poeira há dejetos não apenas dos particulados suspensos no ar, que vem voando do ambiente externo, para o meu espaço interior; há ainda, despojos materiais de mim mesmo - do que consumo e do que expurgo de meu próprio corpo, tudo que de mim foi organicamente rejeitado.
(Bio)síntese direta, metáfora adequada à minha condição de eu neste mundo, pois do constante consumo intelectual, religioso ou emocional - regurgita-se e se volta para fora, para além de mim. Transbordado. Reciclado. Recondicionado.
No pó eu vejo o quanto eu já fui. No pó eu vejo o que eu sou.
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